terça-feira, 22 de março de 2011

Indefinido reinício da obra de Jirau

Mauro Zanatta

A Camargo Corrêa, sócia e responsável pela obra da usina de Jirau, em Rondônia, afirma que não é possível afirmar quando será retomada a obra da hidrelétrica após os episódios de vandalismo e violência no canteiro às margens do rio Madeira.

O presidente da empresa, Antonio Miguel Marques, disse ao Valor, que seria "precipitação" fazer uma previsão sobre o cumprimento dos prazos para o início da geração de energia ou a conclusão da obra. "O que se disser agora é precipitação", afirmou. "O cronograma vai ser afetado, mas se a obra vai atrasar ainda não sei", acrescentou o executivo.

Pela previsão inicial, a Camargo anteciparia a geração da energia para maio de 2012 e a conclusão da usina demoraria até janeiro de 2013. Mas o executivo afirmou que não é possível "dizer nem sim nem não" sobre o cumprimento do cronograma. A empresa mobilizou uma equipe especial de executivos para "replanejar" todo o cronograma da obra. As ordens ainda não chegaram a Porto Velho. O trabalho está concentrado em São Paulo.

No caso de atraso das obras, Antonio Miguel também não soube dizer o valor da multa imposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). "Não sei precisar valores", disse. O executivo também informou não ter recebido ainda o pedido de informações expedido pela Aneel na sexta-feira passada.

Após a megaoperação para retirada de 8 mil operários de Porto Velho, a Camargo informou ontem que ainda restavam 160 pessoas alojadas em abrigos espalhados pela capital. Pelas ruas da cidade, poucos operários eram vistos ontem. Alguns decidiram ficar para esperar a chamada de volta ao trabalho. Toda a obra da hidrelétrica contava com 22 mil operários.

Em outra frente, o vandalismo que paralisou a usina de Jirau e ameaçou "contaminar" a obra da vizinha Santo Antônio também virou pano de fundo para uma feroz briga sindical entre militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Força Sindical.

A disputa pelo controle do sindicato da construção civil de Rondônia desatou uma corrida das duas centrais desde o início dos episódios de violência no canteiro de obras de Jirau, a 120 quilômetros da capital. A CUT enviou seu secretário de Finanças, Vagner Freitas Moraes, para neutralizar a presença do secretário de Relações Institucionais da Força Sindical, Carlos Lacerda, em Porto Velho. O alvo da disputa é o comando dos 40 mil trabalhadores das duas usinas.

A questão ganhou mais notoriedade com a aprovação, na Comissão de Trabalho da Câmara, de um comitê acompanhamento da crise em Jirau. Entre os deputados designados para o grupo está o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).

A Força ganhou da CUT a eleição disputada no início de 2009, mas o resultado foi suspenso pela Justiça do Trabalho a pedido do Ministério Público sob alegação de irregularidades cometidas pelo candidato a reeleição Antonio Acácio Amaral.

Desde então, a disputa não arrefeceu. Pelo contrário. A Força recorreu da decisão judicial e o caso seguiu interferindo da condução das negociações trabalhistas com as construtoras Camargo Corrêa, em Jirau, e Odebrecht, em Santo Antônio.

No controle do sindicato, a CUT argumenta que não é hora de "fazer a disputa" com a Força em razão do grave momento por que passam os operários em Jirau. "É um absurdo isso. Não se pode querer subverter a ordem das coisas. Aí, é golpe sindical", afirma Vagner Moraes.

A Força defende a volta ao comando do sindicato. "Houve interferência política indevida. Suspenderam a eleição com manobras. Mas o TST (Tribunal Superior do Trabalho) vai restabelecer a ordem", afirma o ex-presidente Amaral, também dirigente nacional da Força.

Atribui-se a essa briga sindical uma greve realizada na usina de Santo Antônio no ano passado. E a polícia investiga se os episódios de vandalismo em Jirau teriam ligações com o embate entre CUT e Força. E a questão segue "sub judice" no TST, pendente da manifestação do procurador-geral do Trabalho.

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