terça-feira, 15 de março de 2011

Mais de 600 pessoas em pescaria-protesto contra Belo Monte no Xingu

Cerca de 400 manifestantes receberam ontem, segunda-feira, dia 14, no porto de Altamira, os 250 pescadores que participaram da “Grande Pescaria em Defesa do Xingu e contra Belo Monte”.

A atividade, terminando no Dia Internacional de luta contra as Barragens, reuniu mais de 600 pessoas. A pescaria começara na última sexta-feira, dia 11, com a benção do Bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler.

Tecendo redes

Depois de três dias no rio, os pescadores de Altamira, Vitória do Xingu, Belo Monte, Senador José Porfírio e Porto de Moz retornaram com 6 toneladas de peixes (pirarara, pacu, piranha, surubim, tucunaré, cachorra, pescada, curimata, poraquê, etc). Os manifestantes que esperaram os barcos no porto da cidade (entre eles muitas esposas e filhos de pescadores), passaram a manhã tecendo redes para simbolizar a integração das populações do Xingu na luta contra a usina.

Extinção de peixes

A pescaria foi mais um protesto contra a construção da hidrelétrica que, de acordo com o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do próprio Ibama, deve acabar com grande parte do estoque de peixes da região e levar à extinção várias espécies que hoje são a base da alimentação e da economia das comunidades indígenas e ribeirinhas da Bacia do Xingu.

Romaria fluvial

Ao longo da manhã desta segunda, os participantes do protesto descarregaram os peixes no porto de Altamira, próximo ao edifício da Eletronorte. Ao meio-dia, os pescadores organizaram uma romaria fluvial, que contou com a participação de dezenas de embarcações. A partir das 13.00 horas, os peixes foram preparados e distribuídos para os ribeirinhos, agricultores, pescadores, moradores da cidade, indígenas e representantes dos movimentos sociais locais presentes. Depois do almoço coletivo, também houve uma doação de pescado para entidades de apoio às famílias carentes de Altamira.

Fortalecimento da resistência

Para a coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Antonia Melo, além dos 600 participantes, mais de mil pessoas passaram pelo evento. “Acredito que a população de Altamira ficou bastante sensibilizada, porque a questão da ameaça à pesca mexe muito com a população em geral. Está ficando claro para a cidade que centenas de famílias que vivem da pesca vão perder essa fonte de alimento.E os que não vivem disso, mas vão pescar nos finais de semana, também perderão esta fonte de lazer”.

De acordo com Antônia Melo, a mobilização unificou os pescadores dos diversos municípios e comunidades e fortaleceu a resistência contra a usina. “A Eletronorte tem feito fortes investimentos para cooptar lideranças nas comunidades de pescadores, e algumas capitularam. Mas isso não significa de forma alguma que os pescadores também se venderam, bem pelo contrário. Hoje os pescadores deram seu grito contra Belo Monte, vão se mobilizar muito mais contra a usina. Mesmo porque muitos que hoje moram no Xingu foram expulsos da região de Tucuruí, e conhecem muito bem a destruição que uma hidrelétrica gera”.

Assembleia dos pescadores

Os pescadores se preparam agora para a grande assembleia dos pescadores da região transamazônica Xingu, que deverá acontecer nos dias 25, 26 e 27, onde espera-se a participação de mais de 700 pescadores. No final do ato foi realizada uma coletiva de imprensa com a presença dos pescadores e, em seguida, foi feita a doação dos peixes pescados a várias entidades e instituições de caridade.

A pescaria teve por objetivo denunciar as ameaças que pesam sobre os povos do Xingu com a construção de Belo Monte, bem como tornar público o desrespeito às leis e aos direitos humanos. As populações de Altamira que dependem diretamente do rio para garantir o sustento de suas famílias como os indígenas, pescadores e ribeirinhos.

Os manifestantes exigem que não haja alterações no percurso natural do rio Xingu, preservando assim as diversas espécies vivas que habitam e dependem do rio. Os manifestantes pedem ainda a imediata paralisação da obra e o respeito ao direito das populações que sobrevivem dos frutos retirados do rio.

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